ENGANANDO O CÉREBRO

Publicado dia 17 de Fevereiro de 2023.

Autor: Evandro Lopes.

Essa máquina fazedora de vítimas não dá uma folga por um segundo sequer. É constante no seu propósito de transformar a gente em serviçais de suas vontades.

No meu caso, o cérebro é virado no Jiraiya. Hiperativo, acelerado, briguento, determinado, inconformado, inovador e sensorial. Ou seja, maluco.

Ele me deixa em alerta 34 horas por dia non stop. Uma coisa doida.

Os meus sentidos sempre estão trabalhando para seu modelo e sempre capturando tudo, processando e tentando fazer do limão do mundo uma grande limonada.

Esse “tipo de ser” sempre foi um grande desafio pra mim. Se eu fosse criança nos tempos de hoje, estaria sendo dopado com altas doses de ritalina.

Mas como sou de uma geração onde nos ensinavam a pensar e a fazer de nossas características valores para o mundo, aprendi a usar o meu cérebro como ferramenta de trabalho e dominar seus impulsos.

Sempre tive dificuldade de ficar quieto e fazer algo sentado. Pra mim sempre foi um desafio muito grande sentar, me concentrar e realizar alguma atividade. Cérebro fervendo, sentidos capturando tudo que acontecia à minha volta e eu pronto para agir.

A primeira ação para domar esse cérebro sedento foi me isolar do mundo. Depois de quase repetir a terceira série porque mentia pra minha mãe e não fazia lição de casa para poder brincar, ela começou a me trancar no quarto para eu estudar. Um isolamento absoluto que, no primeiro momento, me levou a um colapso, mas que, com o tempo, entendi a dinâmica da coisa e comecei a dominar o cérebro e jogar o jogo.

Com esse movimento, entendi que sou uma pessoa muito sensorial e que essa era minha maior fortaleza.

O próximo grande passo que dei nessa jornada foi focar todos os sentidos numa situação ou momento. Hoje, chamamos de concentração ou, se formos mais profundos, estado de FLOW. Acredito que esse foi o meu maior desafio e que controlá-lo me trouxe até aqui.

Outro ponto de honra foi provar pra todo mundo que ser diferente não é errado. Enquanto a maioria fazia calos nos dedos copiando matéria da lousa, eu focava nas explicações, processava os conteúdos e, depois, praticava a consolidação do conhecimento. 

Foram várias broncas, castigos e surras quando meus pais viam meu caderno sem nada de matéria. Mas também foram vários parabéns, mesmo que vazios por serem contrariados, pelos lindos boletins que eu trazia. Tudo isso fugia do controle deles. Mas o importante é que, de alguma forma, pagaram para ver. E viram. O resultado? Nunca tomei ritalina, nem fui colocado num colégio interno.

E assim toquei a vida. Evoluindo nesse sentido de respeito e controle do meu ser e fazendo a diferença pelo meu propósito.

O mais importante de tudo isso é que eu me entendi, me respeitei e me desenvolvi pelas minhas características. Estabeleci minhas fortalezas e gerenciei minhas fraquezas.

No mundo multimídia que vivemos, meu cérebro está no Jardim do Éden, pronto para me levar para a perdição.

Por exemplo: para escrever um simples texto como esse, preciso acalmar meus ouvidos com música, desligar os 5 monitores da mesa e fechar a porta da minha sala. Assim controlo meus sentidos e foco todos eles para um único propósito. 

Parece fácil, mas não é. Precisa de muita prática e força de vontade. Isso sem falar nas críticas e rótulos que recebo. O de “alma indomável” é o mais bonitinho.

A moral da história é que precisamos saber o que queremos, que recursos temos e fazer deles a nossa fortaleza. Não tem como não dar certo.

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